Wednesday, April 26, 2006

Que aventura tão extraordinária!!!!!

(Bem, este post parece quase a descrição do Ramalhete n’Os Mais, mas uma história tão extraordinária quanto esta merece o pormenor!!!)


Saímos do aeroporto do Porto com 15 minutos de atraso. Nada de mais comparado com o que nos esperava em Londres. A viagem correu bem, mas quando já deveríamos estar a aterrar, o avião deu voltas e mais voltas no céu, certamente à espera de ter ordem para aterrar. O comandante de vez em quando dizia qualquer coisa, mas o som não era claro e nós quase nada percebíamos do que ele dizia. Numa dessas vezes em que ele falou, vimos algumas pessoas a abanar a cabeça em sinal de desaprovação, mas nós pensámos que era por andarmos no ar à espera de licença para aterrar. Qual não foi a nossa surpresa quando descobrimos que não tínhamos aterrado no aeroporto de Londres/Stansted onde deveríamos ter aterrado, mas no de Nottingham East Midlands. Os portugueses começaram a dizer que era uma vergonha, e que nunca mais viajavam na Ryanair, até que numa dessas conversas cruzadas percebemos finalmente que devido ao forte nevoeiro que se fazia sentir em Stansted vários voos foram desviados para outros aeroportos. Foi aqui que o que tínhamos ouvido dizer sobre o facto de Inglaterra ser a terra do nevoeiro começou a fazer sentido!

Ficámos cerca de 1 hora dentro do avião à espera de autocarros que nos levassem para o aeroporto, pois o avião estacionou muito longe. Depois de irmos para o aeroporto, já com as nossas bagagens, dirigimo-nos para outro autocarro que nos levaria até Stansted numa viagem de 2 horas que aproveitámos para dormir, não sem antes experimentar a sensação de andar ao contrário na estrada (não imaginam a impressão que mete fazer as rotundas ao contrário)!

Ao chegar a Stansted às 4 da manhã, com um nevoeiro cerrado, outra surpresa ainda maior nos esperava: o nosso voo para Malmö, que era às 6:55 tinha sido cancelado (tal como outros 19, ou seja, estavam no aeroporto milhares de pessoas que tinham visto o seu voo cancelado)!

Estivemos numa fila por mais de 1 hora, onde depois nos informaram que o voo seguinte seria às 19:20, mas que não davam certezas de que ele se realizaria, pois tudo dependeria da melhoria das condições atmosféricas.

Lá fomos nós procurar umas cadeiras para esperar umas longas 13 horas de incertezas. Lá se foram passando: lendo, dormindo, falando, comendo, jogando Sudoku e palavras-cruzadas, olhando para centenas e centenas de italianos que esperavam voo de regresso a Itália (sim, porque o 25 de Abril também é feriado em Itália), assim como outros milhares de cores e nacionalidades diferentes, e ouvindo várias línguas diferentes à nossa volta. Lá fora o nevoeiro tinha começado a levantar, e os voos foram então começando a sair.

Abre-se o balcão para o check-in e pudemos respirar de alívio, pois era o sinal de que o avião iria partir. Entretanto tínhamos conseguido o número de telefone da pousada da juventude, e estávamos a tentar telefonar para avisar que iríamos chegar a Lund fora do horário indicado pelo funcionário da pousada aquando da reserva. Lá conseguimos falar, e o funcionário disse que se chegássemos à pousada depois das 23 horas, para voltar a ligar, mas até às 22:45 para que alguém pudesse ficar à nossa espera. Acontece que novamente as coisas não correram como o previsto. O voo atrasou 1 hora e aterrámos em Malmö/Sturup às 23 horas em ponto. Assim que saímos do avião, tentámos telefonar para a pousada, mas já ninguém nos atendeu. Apanhámos o autocarro para Lund, fomos à pousada, onde chegámos cerca da meia-noite, tocámos à campainha, mas não estava ninguém.

Sem saber o que fazer, pois já tínhamos estado sem dormir na noite anterior, mas sabendo que os hotéis da zona cobram por noite balúrdios, dirigimo-nos às únicas pessoas que vimos na rua: taxistas que foram impecáveis connosco. Depois de explicarmos a situação, um deles telefonou do seu telemóvel para vários hotéis num raio de 30 kms, mas estava tudo esgotado, pois havia uma conferência em Malmö. Nós já desesperávamos, pois era 1 da manhã, estava frio, estávamos cansados, e estávamos a ver que tínhamos que passar a noite algures na estação de comboios, de novo sem dormir. Até que um dos taxistas (aparentava cerca de 50 anos e não falava inglês) disse algo em sueco a um dos colegas e este traduziu (em inglês, claro!!!): “Este homem vai fazer-vos um favor. Vai levar-vos a dormir para a sua própria casa. Metam as bagagens no carro dele!”


Ficámos num misto de apreensão, medo, alegria e sensibilizados pelo gesto do senhor. Chegámos à sua casa a cerca de 5 minutos de Lund e ele mandou-nos ir para a sala, mandou-nos sentar no sofá e ligou a televisão. Foi acordar a esposa, que apareceu igualmente simpática, e que, tal como o marido não falava inglês (só uma ou outra palavra). Eles foram absolutamente impecáveis connosco: deram-nos dormida, um pequeno-almoço espectacular (como se vê na foto) e ainda nos deixaram tomar banho.

Quando lhe perguntámos como lhe poderíamos pagar o que tinham feito por nós, meteram os dois a mão no coração, disseram que não queriam nada e que estavam contentes por nos ter acolhido (sim, porque nesta noite sentimo-nos verdadeiros sem-abrigo). Cerca do meio-dia e meio (sim, porque o senhor trabalhava durante a noite e tinha chegado às 6 da manhã), depois de estarmos sentados na conversa à mesa, voltámos para Lund com o taxista (doravante senhor Anlet), a esposa (Mihaela) e o seu filho de 5 anos (Arian).

Vieram trazer-nos à pousada, mas esta estava fechada e só abria às 5 horas. O senhor Anlet mandou-nos entrar novamente no táxi e disse algo parecido com: “Coffee! Coffee!”. Fomos então para um café, perguntou o que queríamos, e obviamente depois de tudo isto chegámo-nos à frente para pagar. Mas, parecendo quase ofendido, não nos deixou pagar! Por fim, estava a chegar a hora do senhor Anlet entrar ao serviço e despedimo-nos finalmente dele e da família com um abraço forte como se de velhos amigos nos tratássemos. Não sem antes eles nos terem dito para os irmos visitar de novo até irmos embora, para lhes ligar se precisássemos de alguma coisa (inclusive de táxi, pois o senhor Anlet disse em relação a alguns colegas algo parecido com: “Taxist mafiosi”), e de termos trocado moradas para se algum dia forem a Portugal lhes podermos retribuir da mesma forma. Não sabemos se algum dia o farão porque sendo uma família de emigrantes simples e humilde, repartem as férias de Agosto entre a viagem à Albânia (país de origem do senhor Anlet, embora esteja na Suécia há 25 anos) e à Roménia (país de onde veio a sua esposa Mihaela há 5 anos).

Vamos, obviamente, quando chegarmos a Portugal, enviar-lhes uma recordação pois eles bem merecem! Apetece dizer que quando Deus fecha uma porta abre sempre uma janela! Algum de nós e de vocês que estão a ler isto, faria o mesmo por 2 desconhecidos?!? Fica a lição…

Bem, neste momento estamos finalmente na pousada, e vamos amanhã começar a visitar a zona. Amanhã à noite daremos notícias neste mesmo sítio. Bye!

PS – Obrigado por terem lido os pouco mais de 7000 caracteres que contém este post. J

1 Comments:

Blogger Pedro said...

Ora viva caros amigos... isso sim é que é aventura... quando for grande também quero fazer uma coisa dessas...

...espero que a vossa aventura corra tão bem como está a correr, ou melhor ainda...

...se precisarem de alguma coisa já sabem...

...comprem...

Boa continuação...

Abraço...

11:47 AM  

Post a Comment

<< Home